CARANCHO

A disputa por protagonismo de uma narrativa não é coisa dos dias atuais. No ano de 1893 estourou no Sul do Brasil a revolução que ficou conhecida como Guerra das Degolas. Enquanto os caudilhos moviam as peças nos campos de batalha, Tarcísio lutou junto às tropas de Gumercindo Saraiva em busca de vingança: tinha contas a acertar com o soldado castilhista Hermano López.

Conduzido por Brida, sua esposa morta, o protagonista se envolve em uma jornada de confrontos cheios de sangue e carentes de sentido, em que a loucura estava sempre à espreita. Mais do que isso: A narradora conta uma história sob o ponto de vista que foi apagado pela historiografia oficial. Ao mesmo tempo em que dá luz aos motivos dos maragatos, Brida expõe aos leitores faces nem um pouco glamurosas de uma revolução conduzida por homens que, em última instância, defendiam seus próprios interesses. Nessa defesa, as pessoas comuns dos campos eram apenas peças de um jogo que sequer compreendiam.

 

 


Com uma narrativa cinematográfica, Tavares soma Erico Verissimo com Cormac McCarthy e toques de Shakespeare, para nos lembrar da triste tradição de polarização fratricida que sempre assola a cultura gaúcha. Com personagens que vão e vem entre fronteiras geográficas e morais, Tavares vai reescrevendo com fúria e sangue sobre aqueles que por séculos se alternaram entre matear e matar, degolando-se mutuamente levados por ódios políticos, honras feridas e vinganças pessoais.

Samir Machado de Machado, autor de Tupinilândia

 

RESENHA