Vivemos em tempos difíceis de se viver.
Lembro ainda dos ensinamentos dos meus professores, nos anos noventa, que nos incentivavam a ser inclusivos, aceitar diferenças, respeitá-las e bem receber a todos. Naquela época, inocentemente, pensava que o Brasil era um país de pessoas tolerantes, avançadas e que, em razão de nossa miscigenação, vivíamos numa terra em que, se não estávamos livres de intolerâncias e ódios, pelo menos estávamos em uma posição privilegiada, pois éramos pacíficos.
Pois bem, cheguei aos trinta anos vendo um Brasil preconceituoso, em que todas as “tribos” buscam seu espaço mostrando o quanto são diferentes e brigando – literalmente – por suas ideias. Pessoas com pensamentos políticos diferentes, o que deveria ser saudável, mas que não se respeitam e adoram o debate do ódio, da briga e de ter que dar a última palavra sempre.
Vejo as classes sociais se separando e se odiando cada vez mais; vejo homens que odeiam mulheres e vejo mulheres que odeiam homens, simplesmente por defender o gênero, nessa separação que parece ser regra. Vejo negros reclamando de brancos, porque estão usando turbantes, chamam de apropriação cultural. Vejo brancos ressuscitando antigas piadas racistas, na coragem que esses momentos instáveis provocam e que a tela do computador protege.
Homens sendo os lobos dos homens. Durante muito tempo, pelo visto, estavam fantasiados de cordeiros.
Infelizmente, penso que estamos ruindo enquanto sociedade. Percebo que a proteção de escrever opiniões na internet – que aceita tudo e qualquer coisa – demonstrou que aquela minha ideia de sociedade evoluída era apenas imaginação de adolescente idealista. Vejo que os preconceitos, ódios e intolerâncias sempre estiveram por ali, escondidos na moda do “politicamente correto”, da primeira década desse milênio.
Logo eu, que achava que ser politicamente correto era um saco, estou com saudades daquele tempo em que se respeitavam as diferenças – mesmo não concordando – e se escondiam essas opiniões odiosas e nojentas que tenho lido pelas redes.
Vivemos numa era de ódios, de notícias falsas e de debates vazios entre pessoas que não tem o mínimo interesse de conversar para amadurecer ou mudar de ideia, mas apenas em debater defendendo cegamente sua posição e apenas isso. O debate pelo debate é algo sem razão.
As famosas e intermináveis discussões que presenciamos nas redes sociais é outra chaga dessa segunda década dos anos dois mil, que dificultam ainda mais a nossa convivência. Escrevi tudo isso para questionar: o que estamos fazendo para fazer nosso país um lugar?
Eu tento fazer minha parte. Procuro divulgar conteúdo cultural, procuro estimular o pensamento crítico e procuro fugir de brigas sobre política – o que nem sempre é possível.
Penso que podemos viver num mundo – pelo menos digital – com mais conteúdo e menos brigas.
E vocês?
Digam aí nos comentários.