Defenda o livro: acredite no seu poder transformador

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arte da descontração por R.Tavares

Nas últimas semanas, a preparação do FestFronteira Experience, uma versão on-line do festival de literatura bajeense, acabou consumindo a integralidade do meu tempo dedicado à criação, e por isso andei um pouco afastado das nossas colunas.

Como vocês sabem, normalmente estou por aqui para indicar livros, mas dessa vez precisamos usar o espaço para defender o livro. Sim. Em pleno ano 2021, parece que voltamos ao período obscurantista da história, onde a verdade e a ciência eram perseguidas pelos reis e religiosos.

No ano passado, tivemos vários exemplos, como colégios proibindo livros, vereadores censurando outros, até o caso mais famoso da retirada de um gibi da Bienal, quando o prefeito do Rio de Janeiro, mandou retirar uma HQ dos Vingadores de circulação, pois achou a capa ofensiva.

Vendo as atitudes de forma separada, poderíamos achar que eram eras coincidências, mas a verdade é que não é. Há um projeto em curso no Brasil de propagar a ignorância, o fanatismo religioso e o ódio ao conhecimento e a ciência. Nos últimos anos, vimos as bolsas de pesquisa escassearem, as leis de incentivo à cultura terem suas contas zeradas, as ciências ditas humanas serem ridicularizadas por uma elite que só pensa em números e que consome apenas livros religiosos ou de autoajuda empreendedora (e, veja bem, respeitamos o direito ao consumo desses livros, só estamos gritando pelo respeito à cultura em geral e, em especial, ao direito a literatura).

Há um projeto de uma nova taxação para os livros, mais um imposto para o povo brasileiro. A justificativa é que o livro seria um artigo de elite, de luxo, e que artigos consumidos pela elite deveriam ser taxados, ao invés dessa conta ser subsidiada. Apesar do argumento ser falacioso, mesmo que não o fosse, temos uma imensa lista de artigos de elite que não são taxados, como iates, helicópteros ou (ora, ora) as grandes fortunas. Quem sabe começarmos a taxação por esses artigos, ao invés dos livros? Ademais, já temos  uma foto clássica da quarentena: o Ministro da Economia, um exemplo claro da elite nacional, sentado na frente de uma estante repleta de espaços abandonados. Uma estante sem livros. Essa é a estante da elite brasileira. Sem livros, sem alma e sem respeito à cultura.

Esse artigo não tem o condão de mudar a realidade nacional. Apenas peço uma coisa: não digam que estão taxando livros por ser artigo de elite. Sejam, ao menos, corajosos e assumam seu ódio ao conhecimento, sua ode às fakenews.

Uma das ações que eu posso fazer, enquanto pessoa física, escritor, advogado e empresário, é pedir que vocês também defendam os livros, pois todos sofrerão com o novo imposto: desde as bíblias, para aqueles que precisam do conforto da religião, ou o livro do empreendedor do momento, bem como a literatura de ficção, além de todo um mercado que contrata muita gente.

Por aqui, sigo acreditando no poder transformador do livro e convido vocês a participarem da Edição Experience do nosso FestFronteira Literária: um festival de literatura de Bagé que agora está disponível para o mundo inteiro de forma on-line. Contamos com a audiência de vocês na próxima semana, nos dias 25, 26 e 27 de agosto, a partir das 20:00 no meu canal no Youtube.

Segue abaixo a programação da Edição Experience do FestFronteira:

 

*artigo publicado originalmente no Jornal Minuano de Bagé/RS no dia 22/08/2020.

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