Estou lendo um livro chamado “A descoberta da escrita”, do autor norueguês Karl Ove Knausgard, e lá pelas tantas ele convida um conhecido para sair e ele pergunta algo do tipo:
“São os mesmos amigos de sempre?”
“Sim, os mesmos. E acho que sempre serão”
Que fantástica essa resposta. Vivemos na era da velocidade e da superficialidade, onde sequer as amizades passam impunes. As redes sociais, as milhares de fotos diárias que precisamos postar para não sermos esquecidos, impõe uma infinidade de obrigações e, dentre elas, estar sempre feliz, sempre comendo, bebendo e apresentando novos amigos – como se amigos fossem descartáveis como peças de roupas velhas, que precisam ser trocadas porque, afinal das contas, não pega bem repetir em várias fotos.
Vocês devem estar pensando que eu falo das redes sociais, mas ao mesmo tempo estou aqui convidando vocês a refletiram comigo através delas mesmas. Sim. Isso é um paradoxo, mas é exatamente o que acontece. Até mesmo os escritores, que antes despertavam curiosidade por serem pessoas excêntricas, solitárias e reclusas, tiveram que se adaptar as exigências e algoritmos do Facebook. Se não aparecemos todos os dias com alguma novidade, textos, fotos e tudo mais, corremos o risco de ser esquecidos e não ter leitores no nosso próximo livro. Outra regra da modernidade: precisa lançar um livro por ano. E o tempo para interagir nas redes, postar fotos, escrever crônicas e escrever um livro novo em 365 dias? A gente que se vire.
O que acontece é que esse é o sistema e devemos aprender com ele. Eu não tenho como lançar um livro por ano, infelizmente, pois preciso mais tempo para maturar a história que estou pensando, organizar e estruturar e tudo isso vem antes de colocar a mão na massa e bem antes do lançamento, efetivamente. Espero que vocês tenham paciência e não esqueçam de mim, aliás.
Outra coisa que me deixa muito feliz é que também prefiro manter os mesmos amigos de sempre. Azar das fotos repetidas. Eu gosto de piadas velhas, gosto de reler livros, assistir filmes pela enésima vez (O Poderoso Chefão que o diga). Tenho amigos que preservo desde a época da pré-escola, colégio e faculdade. Infelizmente não temos como estar com todos ao mesmo tempo, mas sempre tenho algum por perto nos momentos mais especiais da minha vida. Sou daqueles que gosta da rotina, saber o que vai fazer, repetir as coisas até ficar bom. Gosto de trabalhar e saber o que me espera em casa ou saber que posso ir na casa de um amigo, aquele de sempre, para tomar um mate, contar as novidades e rir de histórias velhas, que as esposas e namoradas não aguentam mais escutar.
Pois é, sou que nem o Karl Ove. Nós ainda somos os mesmos amigos de sempre. E eu agradeço por isso.