Ainda que a terra se abra

Martín, um jovem professor de direito, retorna ao sul após a morte do pai e descobre que o pampa não é mais o mesmo. O progresso desaloja agricultores para dar espaço a barragens e plantações de eucaliptos. A pecuária, que formatou a economia e a cultura da região, se tornou atividade de alto risco. E sua irmã mais velha, Bibiana, tomou as rédeas da estância familiar com uma tenacidade que Martín não consegue compreender.
 
Parece que estamos diante de uma jornada de retorno do herói à sua casa, só que virada do avesso. Martín nada tem de heróico, exceto, talvez, a rigidez moral que o indispôs com a família após um episódio de violência nunca bem esclarecido. Ele ainda carrega culpa pelo acidente que resultou na morte precoce de sua mãe. A partilha da herança será pretexto para um reencontro com o passado e o enfrentamento de questões inadiáveis. O que, afinal, ele quer da vida? E qual seu papel nessa família?
 
Com esta novela habilmente construída, Rodrigo Tavares leva a um novo patamar sua exploração contemporânea da literatura gauchesca. A linguagem regional de "Andarilhos" cede lugar a um estilo mais seco e direto, no qual a tradição entra em simbiose com a modernidade e os mitos sobrevivem como agentes contaminantes no capitalismo globalizado. Na maneira como recheia seus personagens aos poucos, em como administra a narrativa para nos surpreender e emocionar, na precisão dos detalhes, roupas e ambientes, no valor que sabe dar à natureza e aos animais, em tudo isso vemos um autor seguro da sua técnica e confiante da potência de sua visão.
 
"Ainda que a terra se abra" nos envolve com sua beleza e concisão. É uma história sobre a permanência das heranças de sangue e das cicatrizes da violência, do preconceito e da barbárie na vida de um irmão e de uma irmã, e ao mesmo tempo um retrato atual da tensão entre o passado e o presente nas fronteiras do sul. 
 
Daniel Galera

DEPOIMENTOS

Rodrigo Tavares atualiza o olhar sobre a fronteira sul, trazendo para o pampa a visão crítica que José Luís Peixoto deu à sua Galveias natal.

Um olhar atual sobre a fronteira Samir Machado de Machado

Com esta novela habilmente construída, Rodrigo Tavares leva a um novo patamar sua exploração contemporânea da literatura gauchesca. A linguagem regional de “Andarilhos” cede lugar a um estilo mais seco e direto, no qual a tradição entra em simbiose com a modernidade e os mitos sobrevivem como agentes contaminantes no capitalismo globalizado. Na maneira como recheia seus personagens aos poucos, em como administra a narrativa para nos surpreender e emocionar, na precisão dos detalhes, roupas e ambientes, no valor que sabe dar à natureza e aos animais, em tudo isso vemos um autor seguro da sua técnica e confiante da potência de sua visão.

Novo patamar na literatura regional contemporânea Daniel Galera

Ninguém mais duvida que Rodrigo Tavares é um mestre no domínio narrativo. Em Ainda que a terra se abra, o autor explora o terreno da contemporaneidade sem perder a essência.

Contemporâneo sem perder a essência Tobias Carvalho