Vivemos em um país no mínimo curioso. Um país em que os códigos e as leis foram feitas para defender os devedores, os investigados e tudo mais. Isso é apenas o reflexo de como pensa e age nossa sociedade.
Semana passada um adolescente abriu fogo contra seus colegas e o delegado concluiu: o assassino era vítima de bullying. Ou seja, o delegado transformou as vítimas, crianças que tiveram suas vidas ceifadas, nos culpados. Sendo que, por mais grave que seja a agressão, a resposta deve ser proporcional.
É a mesma lógica machista que coloca a culpa dos estupros e assédios nas meninas que usam roupas curtas, a mesma lógica que faz com que gente inteligente chame um candidato suspeito de “mito”. Ou a mesma lógica do jornal A Folha, que entrevista um Nazista que defende sua visão como a salvação do Brasil.
É a mesma lógica que explica que num ano de retrocessos, de reformas trabalhistas, legitimação de trabalho escravo, a pauta nos programas e nos debates seja o que é ou não arte, se o nu pode ser arte ou não.
As mesmas pessoas que acham absurdas as “artes degeneradas” e utilização de símbolos religiosos com fins artísticos, emudeceram perante a prisão de padres e freiras católicos na Argentina, pelo abuso de menores surdos e mudos, sem condições de se defender. Mas isso não choca. O que choca é usar uma imagem de Jesus com símbolos de consumismo.
É a mesma lógica que fez milhões de brasileiros irem as ruas contra as pedaladas fiscais, mas assistem de camarote, em cima do muro, todas as barbaridades cometidas por um presidente ilegítimo e que usa de sua impopularidade para avançar no programa de retrocesso social e benefícios de grandes empresários (esses mesmos que pagam todas essas propinas que nos assustam – apenas quando convém, diga-se).
Então, não me surpreende essas lógicas bizarras feitas no Brasil, pois vivemos num país e em tempos ilógicos.