Quero inaugurar esse espaço conversando, francamente, com vocês, leitores. Ainda esses dias fui marcado em um post no Instagram, na verdade uma merecida homenagem aos 160 anos de Simões Lopes Neto, o precursor do nosso regionalismo.
Nos comentários, um senhor disse, ipsis litteris, que “é triste saber que Pelotas produziu um escritor dessa qualidade e hoje o RS todo não produz nenhum livro que valha o esforço de abrir um livro”.
Ouso discordar do nobre usuário das redes sociais. Em primeiro lugar, se o sujeito tem preguiça de abrir um livro, dificilmente pode analisar qualquer uma dessas publicações.
Porém, esse comportamento é algo que noto em muita gente no nosso Estado. Nós gritamos que “sirvam nossas façanhas de modelo à toda terra” e muitas vezes usamos o passado para a exaltação, ao mesmo tempo que esse apego à tradição serve como desculpa para sequer conhecer o novo.
Enquanto escritor (e regionalista), minha experiência é a seguinte: sou muito mais lido fora do Rio Grande do Sul do que por aqui. Sei que santo de casa não faz milagre, mas é sintomático que meus livros, extremamente regionais e que narram histórias do Sul do Rio Grande do Sul, sejam mais lidos por brasileiros de São Paulo, Minas e estados do Norte e Nordeste do que aqui.
Fico com a impressão de que muitos leitores pensam que a literatura gauchesca morreu junto com Erico Veríssimo. Como se não precisassem ler o que está sendo lançado. É um direito, claro, mas quem opta por essa postura não pode julgar livros que sequer abriu.
Não vou indicar meus livros para esse senhor, mas posso falar tranquilamente de alguns autores gaúchos que valem a pena ser lidos. No campo regionalista, indico Leticia Wierzchowski, Luiz Antonio Assis Brasil, Ana Mariano, Valdomiro Martins, Alcy Cheuiche, apenas numa lembrança superficial de nomes. Para quem estiver mais aberto a temas não regionalistas, recomendo Samir Machado de Machado, André Timm, Gabriela Silva, Luisa Geisler, Carol Bensimon, Fernando Risch, José Francisco Botelho, entre tantos outros.
Essa primeira coluna é um convite aos leitores para permitirem que nós, escritores, possamos apresentar nossas histórias. A literatura gaúcha não parou no tempo. Os livros estão aí, esperando serem descobertos. O passado nos honra, mas o futuro da nossa literatura depende de quem ousa abrir um livro.