Estou fazendo um curso de História chamado “História Social e Politica dos Conflitos Bélicos do Prata”, no Centro de Documentação Histórica do Rio da Prata e do Brasil. Em uma dessas aulas, estudamos os primeiros mapas da nossa região, e era notória a diferença entre eles. Os mapas portugueses empurravam o Brasil até Colônia do Sacramento no Uruguai. Já nos mapas espanhóis, o Brasil terminava pouco abaixo do Rio de Janeiro.
Isso me fez refletir sobre os mapas e sobre quem os desenha. Aquilo que eu já debatia no meu romance “Carancho” – a versão da história dos vencedores.
Então me perguntei: Será que seguimos assim?
Era uma cidade pequena. Pequena, mas dividida. De um lado, vivia gente que jurava ser vítima dos vizinhos do outro lado. E vice-versa. Cada um contava sua história. Cada um mostrava seu mapa, onde, curiosamente, o território do outro quase não existia.
Quando alguém pedia paz, ouvia:
— Claro que sim. Mas só depois que eles deixarem de existir.
Quando alguém falava em justiça, vinha o complemento:
— Mas só pra quem merece.
Engraçado como o certo e o errado mudam de acordo com onde você está no mapa.
Se joga pedra daqui, é resistência.
Se responde de lá, é opressão.
Se oprime daqui, é legítima defesa.
Se oprime de lá, é terrorismo.
Tudo depende da legenda do mapa. E quem faz a legenda, claro, é quem segura o pincel.
O curioso é que ninguém ali se achava mau.
Todos eram do bem.
Todos queriam proteger os seus, os seus ideais, os seus valores.
Só havia um problema: pra que alguém vivesse em paz, alguém teria que deixar de existir.
No fundo, é sempre assim.
É mais fácil amar um povo quando você não precisa olhar pra cada rosto.
É mais fácil defender uma causa quando ela cabe numa frase de efeito.
E é mais fácil odiar… quando o outro vira só um ponto no mapa.
No final, a cidade seguia dividida.
Cada lado com seu mapa, seu herói, seu vilão.
E a paz… essa seguia perdida.
Talvez porque, pra alguns, ela só seja possível quando não houver mais ninguém do outro lado.
O que não podemos esquecer — nem aqui, nem em lugar algum — é que, entre o rio e o mar, há gente. Gente que ama, que sonha, que vive. E o que jamais se pode permitir… é que essa gente seja simplesmente apagada do mapa.