Algumas pessoas têm me perguntando qual seria a categoria do livro “Andarilhos”, lançado, recentemente, pela tradicional editora gaúcha Martins Livreiro. Quando falamos em literatura regional, as pessoas acabam colocando sobre o livro uma pecha de expectativas ou fórmulas já utilizadas para categorizar uma outra época, o que acaba trazendo um peso negativo sobre a obra, já que ela precisaria se adequar a um determinado modelo já cristalizado.
Por admirar e por ler muito autores brasileiros contemporâneos, gostaria de poder encaixar o livro nessas prateleiras, mas ao “Andarilhos” também faltam algumas das características clássicas desses nossos autores da mesma geração. A consagrada literatura contemporânea brasileira vem utilizando de muita experimentação em formas, estruturas, buscando romper com os paradigmas dos clássicos, muito embora isso sempre tenha ocorrido, digo, com isso, o fato de conhecer as regras para jogar com elas, não as utilizando em sua integralidade.
Quando as pessoas me questionam, fico entre dois corações: afirmo ser regional — com todo o peso que isso carrega — ou afirmo ser contemporâneo — sabendo que não sigo todos os seus caminhos?
Com o “Andarilhos”, eu busquei uma narrativa clássica, um romance de história, narrado em terceira pessoa. Isso é um movimento contrário ao que a literatura brasileira contemporânea vem produzindo. Nossos autores mais consagrados dessa nova geração escrevem o que vem sendo chamado de “autoficção”, que são textos em primeira pessoa em que, não raro, os personagens principais são escritores filosofando sobre seus problemas e suas dificuldades enquanto seres pensantes.
Além disso, em muitos livros contemporâneos, as cidades e locais da narrativa interessam pouco, seriam quase cinzas, numa necessidade de globalização, de colocar sua história para ser encaixada e completada pelo receptor, que poderia, então, imaginá-la acontecendo em qualquer lugar do Brasil e do mundo.
Sobre esse tema, vi algumas reportagens em que autores gaúchos estariam preferindo serem taxados de autores brasileiros, talvez para alcançar um público maior ou simplesmente para não serem comparados aos nossos bairristas clássicos.
De minha parte, preferi narrar um livro com sotaques, lugares e cheiros regionais – tudo isso como cenário, como o pitoresco da história – focando sempre no drama e na força das personagens. Durante um bom tempo, fiquei com medo desse selo de “autor regional” acabar passando a mensagem de que escrevo uma literatura que já teria ficado, cronologicamente e esteticamente, para trás.
Porém, resolvi encarar essa realidade de produzir literatura regional – e isso independe de se tratar de história de época ou não (leiam meu suspense pulp “Noite Escura”) – pois os dramas universais que quero contar podem, sem medo, coabitar com os cenários e pensares regionalistas. E para fugir do termo literatura regionalista, ou “riograndense”, estou passando a apresentar minha obra como “Literatura Regional Contemporânea” — pois, apesar de apresentar fortes referências nos regionalistas clássicos, escrevo no agora e procuro tratar dos nossos temas atuais, mesmo que disfarçados em dramas de personagens que vivem/viveram em outras épocas.
Sei que existem muitos autores brasileiros produzindo literatura regional contemporânea nos seus estados. Você, leitor, poderia me indicar alguns?