Está difícil ser escritor.
Ainda esses dias, estava passeando pela Avenida Sete de Setembro, em Bagé, interior do Rio Grande do Sul. Entre um café e outro, esbarrando em velhos conhecidos, andando por aqui e por ali e aproveitando o sol invernal, escuto na rádio a seguinte notícia: uma velhinha caiu no golpe do bilhete premiado e entregou para os golpistas oito mil reais em dinheiro além de um automóvel. Vocês conseguem acreditar nisso?
Todos os dias lemos e estudamos sobre a necessidade de verossimilhança para criar uma história e, então, aqui no Brasil, temos, todos os dias, esses fatos inacreditáveis. Sejamos sinceros: como no ano de 2017 alguém ainda cai no golpe bilhete premiado? Ok, alguns dirão que os mais velhos são mais inocentes e coisa e tal. Mas, por gentileza e por curiosidade, me expliquem: qual a lógica de uma pessoa trocar um bilhete premiado de 500 mil por 8 mil? Com todo respeito a senhorinha lesada, mas a ganância por dinheiro fácil é que fez ela cair no golpe.
Nosso país tem muita gente interessada em “almoço grátis”, pirâmides financeiras, oportunidades excepcionais de ganhar dinheiro sem trabalhar e todas essas coisas fantásticas e inverossímeis.
Por isso digo que nosso problema não são os políticos, somos nós enquanto povo — uma gente que sempre busca os atalhos e os jeitinhos, sendo sonegadores, furadores de fila e tudo o mais que dê uma pequena vantagem sobre os outros. Mas, também, o Brasil foi colonizado por náufragos, traficantes e degradados. O que poderíamos esperar disso?
Enquanto escritor, imaginem que eu escreva uma história de uma pessoa que cai no golpe do bilhete premiado? Nenhuma editora lançaria meu livro! Faltaria a tal verossimilhança.
Está difícil ser escritor, pois é difícil superar a realidade do povo brasileiro: nossas gentes parecem de Westeros; e nossos políticos, de House of Cards!