No último final de semana eu assisti ao filme “Três anúncios para um crime” (Three Billboards Outside Ebbing), dirigido pelo Martin McDonagh, que me impactou demais e colocou o dedo em algumas feridas.
Uma mãe que perdeu a filha em um crime hediondo resolver colocar três anúncios em outdoors, cobrando a polícia local pela solução do crime, pois ela entende que as autoridades não deram atenção devida ao fato, nem mesmo as investigações.
Uma pequena cidade do Sul dos EUA acabada tendo suas vísceras expostas nessa pequena obra prima, onde de um lado temos policiais neófitos, ou apenas incompetentes, tentando manter as aparências do seu trabalho irregular e de outro uma mãe devastada, que não tem mais nada a perder.
O filme escancara nossa fragilidade ao fazer julgamentos para um lado, porém nos sentimos confortáveis quando a vítima também tem atitudes reprováveis. E quando sentimos esse dedo na ferida, impossível não pensar no Brasil e nessa guerra de lados e narrativas onde nos encontramos, onde tanto faz o seu lado, você defende cegamente algum político corrupto, que de diferentes nem mesmo o discurso possuem, mas apenas as cores da legenda.
O longa tem atuações marcantes, a atriz Frances McDormand, com sua raiva contida e sua força na cara cheia de marcas, é o grande destaque, mas é impossível ignorar o talento do Woody Harrelson, que podia ser apenas mais um policial incompetente do cinema, mas mostra um personagem cansado, se entregando e já desiludido com os objetivos da vida e com as possibilidades de resolver quaisquer crimes não óbvios. E, por fim, o outro destaque é Sam Rockwell, um policial aparentemente conservador, dessa estirpe de direita raivosa e armada, que só faz merda, mas no fundo é só um reflexo do meio em que vive.
Terminei esse filme com a impressão de que essa geração ‘nós e eles’ em que vivemos, é de fato como um jogo de futebol, com torcida irracional, mas que no fundo todos os lados fazem as mesmas coisas, corrompidos e com uma desculpa de ocasião.
Recomendo demais que vocês assistam.