Legalidade – Crítica

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Na segunda-feira, dia 9 de setembro, assisti a pré-estreia do filme “Legalidade”, no Theatro São Pedro, na cidade de Porto Alegre. Enquanto aguardava o início do filme, sentado confortavelmente nas poltronas vermelhas daquele imponente prédio, que foi o mesmo que recebeu a primeira sessão cinematográfica no Rio Grande do Sul, em 1909, fiquei lembrando das primeiras notícias que recebi dessa produção.

Apenas uns poucos dias depois da atriz Cleo noticiar, em suas redes sociais, que havia assistido e se emocionado com o curta “O Sabiá”, que contava a história de uma família quilombola na região do Camaquã, o diretor Zeca Brito anuncia que aquela mítica atriz, que estava em Bagé sendo Ana Terra no filme “O Tempo e o Vento”, de Jayme Monjardim, seria a estrela de sua próxima obra, que contaria a trajetória de Leonel Brizola na epopeia da Legalidade.

No roteiro escrito por Zeca e Leo Garcia, vemos um filme que continua a tradição dos romances históricos, um dos gêneros literários favoritos dos gaúchos, onde acompanhamos os fatos históricos, passeamos por seus cenários, mas sempre através do olhar e das experiências dos personagens ficcionais. Tal decisão se mostrou acertada, pois assim o filme não é uma mera biografia de Leonel Brizola ou uma aula dobre o movimento, pelo contrário, o filme “Legalidade” é uma obra que se sustenta por seus personagens, com seus dramas e seus conflitos.

Falando em personagens, é necessário que se diga: não existe outra atriz brasileira que pudesse ser a jornalista Cecília. A deslumbrante Cleo nos apresenta sua melhor versão no filme “Legalidade”: uma personagem feminina, forte, moderna, uma femme fatale à brasileira, saída das melhores histórias pulp direto para os porões do Palácio Piratini.

Sua ambígua personagem usa de muita inteligência e sedução para manipular a todos, homens e mulheres do filme, para conseguir as informações que precisa e cumprir com seus objetivos. Nós, espectadores, acompanhamos essa jornada praticamente sem piscar os olhos, enfeitiçados por Cleo.

Com atuações firmes de atores já conhecidos do cinema nacional, como Fernando Alves Pinto e José Henrique Ligabue, e um roteiro muito bem amarrado, temos um filme nacional com todas as ferramentas para ser consumido pelas massas. Não é um filme pretensioso, querendo ser intelectual, e não é um filme didático sobre o movimento. É um filme que respeita a tradição do cinema gaúcho, mas está com passaporte carimbado para ser visto e apreciado pelas plateias de todo o País e do mundo.

Não podia encerrar esse pequeno depoimento sem falar do grande ator Leonardo Machado. O Leonel Brizola que o ator nos entrega é, talvez, uma de suas melhores atuações. Não é um mero arremedo do personagem real, mas um Brizola construído nos mínimos detalhes, forte, imponente e um pouco inconsequente nas suas decisões. Leo Machado, como era conhecido nos bastidores do mundo do cinema, deixa como último trabalho uma atuação de luxo e o sentimento unânime de que ele nos deixou cedo demais.

“Legalidade” é um filme que fala do passado, mas que dialoga perfeitamente com o presente. Um filme que insiste e grita pela democracia que, por mais imperfeita que seja, ainda é melhor que todas as outras formas de governo já testadas pelo mundo. “Legalidade” retrata um dos momentos em que nossa democracia foi atacada, mas que resistiu firmemente porque o povo foi às ruas e impediu um golpe que era iminente. Que mensagem maravilhosa.

O que vemos na tela é a obra mais madura desse jovem cineasta bajeense. O filme nos manda para casa com uma reflexão: até onde iríamos para proteger aquilo que acreditamos?

Viva o cinema brasileiro!

 

*Publicada originalmente no Jornal Minuano de Bagé/RS em 13/09/2019

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