Acordar para escrever

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A verdade é que vivemos tempos muito corridos.

Eu sempre tive uma certeza na minha vida: gosto de contar histórias, gosto de prestigiar e de fazer parte de uma cena cultural. Sempre fui assim.

Ainda me lembro lá pelos anos 1990, quando comprei, pela primeira vez, um livro com o “meu” dinheiro – da minha mesada, claro – e de lá para cá são centenas de livros na minha biblioteca particular e outras centenas de livros lidos.

Uma consequência óbvia para quem lê tanto é querer escrever e contar suas histórias. Esse sempre foi meu sonho. Porém, a nossa sociedade não está bem preparada para aceitar que ser escritor (artistas em geral) é uma profissão como todas as outras. A verdade é que essa sociedade espera e vende a ideia de que ser artista no Brasil é sinônimo de passar fome, de que não tem futuro, segurança, dentre outras “verdades universais” vendidas por aí.

Acho bacana quando vejo pais incentivando as crianças desde cedo: dão livros, colocam em aulas de teatro, inglês, violão, pintura e tudo mais o que o mercado oferece. Mas não deixo de me perguntar isto: por que será que quando as crianças, os jovens talentos em quem eles tanto investiram, fazem seus dezesseis ou dezessete anos, tal talento já não tem graça e nem valor, e a sentença é quase sempre a mesma: vai fazer um cursinho pré-vestibular e entrar numa faculdade que te dê segurança? Ou seja: quando o jovem talentoso quer transformar esse talento em profissão, em geral isso se transforma “no problema” da pacata família.

E lá se vão nossos jovens e talentosos artistas trocar aquilo que amam e que foram ensinados a fazer por mais uma carreira burocrática ou “normal”.

Eu não sou diferente da sociedade em geral, infelizmente. Sempre soube que gostaria de cantar, escrever, trabalhar com arte, enfim, e quando chegou na hora “H” tomei outra decisão: prestei vestibular para Direito, confiando na velha máxima do “leque de oportunidades” que esse curso abriria e, assim, deixei em segundo plano meus ofícios de artista.

Preciso deixar algo claro: não pensem que não gosto do Direito! Pelo contrário, eu amo o Direito – principalmente o do Trabalho! Mas a conversa do leque de oportunidades se provou uma balela (mas isso é assunto para uma outra conversa…), e as dificuldades para se trabalhar no ramo do direito se mostraram enormes – o mercado está saturado, e os salários, em sua grande maioria, são mais baixos do que os de muitos profissionais que fizeram apenas cursos técnicos.

A verdade é que não existe caminho fácil. Em qualquer profissão, todos devem se esforçar – e muito. Deixem, então, que nossos jovens sejam artistas, médicos, advogados, artesãos, ou qualquer caminho que os façam felizes.

Quanto a mim, venho protelando essa paixão por escrever há tempo demais. Lancei dois livros de forma independente (em 2007 e em 2009) e, depois disso, sempre venho adiando os meus projetos pela falta de tempo, pelas audiências, pelos estudos, enfim… venho dizendo a mim mesmo que minha profissão é outra e que minhas prioridades também deveriam ser.

Sim. Esse fui eu tentando me enganar por quase dez anos.

A verdade é que quem ama algo e quer muito fazer, acha tempo para isso. E eu amo escrever e tenho muitas histórias para contar. Assim, eu vou achar o tempo de que preciso. Por isso, estou aqui na Oficina Fantástica e, além disso, criei o projeto #acordarpraescrever, representando essa necessidade de achar um horário, nem que seja acordando mais cedo, para escrever (afinal, escritores escrevem) e voltar a dividir minhas histórias e minhas impressões com vocês. Espero que tenham alguns amigos que ainda topem ler e conversar sobre os mais diversos assuntos por aqui.

Se algum dia serei escritor profissional? Não sei.

Mas, por enquanto, me basta ser um escritor apaixonado.

R. Tavares.

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