A arte da desconstrução

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Esses dias, em alguns grupos de escritores, vi algumas enquetes que me incomodaram bastante: qual livro você largou pela metade? Qual a pior capa que você já viu?

Mas isso não acontece só no meio pseudoliterário. Quem nunca viu alguma iniciativa e passou a achar defeito nelas? Acho que isso sempre foi normal em conversas com amigos, almoços familiares, intervalos de trabalho e outros ambientes de interação social. A verdade é que falar do clima – será que chove? – ficou tão manjado que as pessoas, nesses encontros, buscam assuntos em comum para criticar, para falar mal.

Mas… Peraí! Vocês já pararam para pensar que essa prática se trata de uma verdadeira forma de desconstruir algo que alguém fez, algo que alguém gastou seu próprio tempo fazendo? Você, enquanto expectador, se gostou ou não, isso é subjetivo, o que importa é que enquanto você está aí apontando defeitos nas coisas produzidas pelos outros, você mesmo não está fazendo nada. Que lugar confortável é esse de se ficar, não é mesmo? Fazendo nada… e só observando e criticando aqueles que têm coragem para fazer o que você não se anima.

As redes sociais potencializaram essa arte da desconstrução. As redes sociais dão voz àqueles que tem tempo de ficar cuidando o que os outros fazem apenas para encontrar defeitos. E por que eu afirmo que as redes sociais potencializaram isso? Inicialmente porque os algoritmos de informática acabando trazendo para a “linha do tempo” pensamentos parecidos com os seus, trazendo aos polêmicos a impressão de que eles não estão sozinhos no mundo. E quando um monte de gente que não cria nada se encontra virtualmente é que esta “mágica” acontece: o efeito de manada. Surgem as curtidas e as compartilhadas; o afago ao ego e a histeria coletiva. Eles estão, esses “desconstrutores”, finalmente, fazendo parte de um grupo: o dos “diferentões”, o daqueles que sabem tudo de todos os assuntos e, assim, criticam literatura, cinema, política e novelas.

Esse fenômeno tem uma explicação científica. Chama-se: oxitocina. É um hormônio que é conhecido como o produto químico do afago e é liberado em situações onde há troca de sentimentos, como beijos e abraços, ou quando estamos nas redes sociais. É justamente esse hormônio que faz as pessoas se sentirem bem nas redes sociais – e quando elas só fazem sucesso desconstruindo e criticando o que os outro produzem, as pessoas têm a tendência de repetir o modelo. Uma vez que a internet aproxima quem pensa parecido, ela dá força a esse tipo de comportamento destrutivo.

Para vocês, eu proponho um desafio: ao invés de criar posts com o que vocês não gostaram, procurem criar listas e “dicas do bem”. Diga onde as pessoas devem ir, porque é legal; onde devem comer, porque a comida é muito boa; livros que as pessoas têm que ler, porque são ótimos. Se não criarmos uma rede do bem no mundo, o ódio e a intolerância que andam por aí, sobrevoando nosso século, vão chegar para ficar.

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